Por contemplar a maior comunidade japonesa fora do Japão, o Brasil preserva grandes influências da cultura nipônica, especialmente nas cidades que receberam quantidades maiores de imigrantes, como é o caso de São Paulo e seus arredores. Além da gastronomia, outro campo que foi muito influenciado foi o da arquitetura, com construções que remetem a estética e aos ideais japoneses presentes em diversos locais da cidade, mesmo que constantemente atrelados a materiais e tecnologias que já se encontravam nos cenários brasileiros.
As construções tradicionais japonesas são fruto da união de elementos simbólicos, formas resistentes a intempéries e materiais naturais, porém quando os imigrantes japoneses chegaram no Brasil passaram a criar técnicas híbridas, juntando os conceitos e tecnologias arquitetônicas japonesas com os materiais brasileiros. Um exemplo foi o uso de biombos de papel e madeira para criar paredes internas nas casas aliado a técnicas de taipa de mão (o popular pau a pique).
Essas técnicas híbridas de construções adaptadas às regiões, materiais e condições climáticas distintas, deram origem à atual identidade nipo-brasileira conhecida e encontrada, principalmente, nas cidades paulistanas. Um dos maiores marcos da influência japonesa no cenário brasileiro é o bairro da Liberdade, pontuado pela intensa imigração asiática e por construções com decorações que remetem às tradições japonesas, como é o caso dos postes de luz com formas semelhantes a lanternas de papel, e edifícios com entradas que lembram os torii – portais tradicionais e sagrados no xintoísmo, principal religião seguida no Japão.
Dentro desse contexto, também surgiram locais voltados para manter viva a cultura japonesa, como é o caso da Torre de Miroku, localizada às margens da Represa Billings, na cidade de Ribeirão Preto, região metropolitana de São Paulo. A torre, baseada no templo Horyu-ji, construído na cidade Nara, tem 32 metros de altura e cinco telhados com um total de 13 mil telhas pintadas com tinta à base de ouro líquido, importada do Japão. Sua construção levou mais de 10 anos para ser finalizada nos moldes da arquitetura tradicional por meio da técnica de sustentação e encaixe, onde cada madeira é fixada sem o uso de pregos ou parafusos, utilizando uma mistura de madeira de eucalipto e jatobá, típica brasileira.
Já na capital paulista é possível encontrar outro grande exemplo da arquitetura japonesa e da técnica de sustentação por encaixes na Japan House São Paulo, centro cultural localizado no bairro da Bela Vista. O projeto foi criado pelo consagrado arquiteto japonês Kengo Kuma, em parceria com o escritório paulistano FGMF Arquitetos. Ao todo são 2.500m², que chamam a atenção pela grande fachada de Hinoki, pinheiro nativo do Japão, que já se tornou um marco da cidade e um ícone arquitetônico em meio aos prédios da Avenida Paulista. Montada por uma equipe de cinco artesãos japoneses especializados na arte do encaixe arquitetônico, a fachada possui 36 metros de largura, 11 de altura e seis toneladas de madeira Hinoki vindas diretamente do Japão. Já na lateral da casa, foi criada uma parede de cobogós em concreto, em uma releitura de Kuma do estilo clássico brasileiro dos anos 1930, homenageando a união entre as duas culturas, representada pela instituição cultural.
A história de idealização desta fachada ressalta a sólida relação entre o Brasil e o Japão. A inspiração para o painel surgiu após uma visita de Kengo Kuma ao Pavilhão Japonês do Parque do Ibirapuera, inaugurado em 1954 e construído com Hinoki e técnicas de encaixe. Guiado pelo presidente da Construtora Nakashima, uma das responsáveis pelas reformas das madeiras na obra do Ibirapuera desde 1988, o arquiteto se encantou com o Pavilhão, desenhado por Sutemi Horiguchi (co-fundador do primeiro movimento moderno da arquitetura no Japão), mestre de Yoshichika Uchida, que foi professor de Kuma. Inspirado pelo trabalho de Horiguchi em São Paulo, Kuma optou por utilizar uma fachada de Hinoki e, assim, evidenciar a técnica tradicional com releitura contemporânea na entrada do prédio na Paulista.
Serviço:
Japan House São Paulo
Endereço: Avenida Paulista, 52 – São Paulo, SP
Horário de funcionamento: de terça a sexta, das 10h às 18h e sábados, domingos e feriados, das 10h às 19h.
Entrada gratuita. Reserva online (opcional): https://agendamento.japanhousesp.com.br/
Pavilhão Japonês
Endereço: Parque Ibirapuera - Portão 10 (Próximo ao Planetário e ao Museu Afro Brasil)
Horário de funcionamento: quinta a domingo e feriados, das 10h às 17h
Ingressos a partir de 15 reais. Mais informações no site: https://www.bunkyo.org.br/br/pavilhao-japones/
Torre de Miroku
Endereço: Rua Bretanha 1 - Ribeirão Pires, SP
Horário de funcionamento: sábados e domingos, das 9h30 às 14h
Entrada com hora marcada. Ingressos, agendamento obrigatório e mais informações no site: https://www.torredemiroku.com.br/
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